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sábado, 21 de fevereiro de 2015

Invisivel


Ela atravessou a rua, atras um cachorro a seguia.
Percebi seus passos atrapalhados, corpo de lado, olhar baixo, como se algo escondiam.
Ficou parada na frente daquele restaurante, um jeito meio distante, perdido talvez pelo álcool ou pela leseira do sol escaldante, que na sua pele estragada refletia.
Roupa estragada, cabelo estragado, pele estragada, sonhos estragados, tudo junto num semblante sisudo e sofrido.
Fome!
Ali ao meu lado e eu da labuta no meio do caminho, pensei no meu bolso vazio, no olhar dela vazio, no vazio do coração do dono do poder, do dono da porra do dinheiro, do vazio ou será cheio caixa do restaurante, me senti por segundos permeando um tempo vazio.
Ela e eu na frente do restaurante, a diferença a roupa e o tom de pele, mas eu havia almoçado e estava de sandália no pé, ainda que minha sandália, surrada do dia a dia, não ela não terminava com issa, mas a tal da diferença existia.
Ela estava invisível na frente do comercio e eu ali no ponto de ônibus, simplesmente existia, tinha um bilhete no bolso que permitia me locomover no coletivo e comprovava a minha tal de cidadania.
Enfim, alguém de bondoso coração, de fino trato e de educação ou pelo menos com o pensamento escondido, de tome suma da minha calçada e volte para o seu lixao, lhe estendeu um almoço e um refrigerante preto que acompanha que embora da mesma cor do ser humano o seu valor é peso em ouro e o ser humano, ora passe para o próximo ponto, virgula, paragrafo ou texto.
Ela pegou abraçou a sacola, abriu a garrafa e como eu ou você sorriu, nao sei se tinha dentes, nao consegui perceber.
Se apressou a andar e o cachorro a lhe seguir ou lhe guiar, já não tinha uma ordem, mas como eu ou você se dirigiu a faixa de transito para atravessar, como eu ou você esperou o farol abrir e como eu ou você atravessou seu caminho e seguiu, no meio de tantos que iam e vinham e nem notara sua presença com a visão, mas talvez suas narinas deram um sinal que algo cheirava por ali a podridão.
Mas na vidada da esquina ela de minha olhos se perdeu e todos continuaram o seu caminho ou ainda continuarão como se nada tivesse acontecido.
Como eu ou você ela seguiu seu rumo, mas diferente de mim ou de você, porque todo dia temos comida no prato, ela seguiu...porque todo dia ela segue e é invisível e talvez faça este mesmo caminho, mas hoje eu a vi, e hoje ela não ficou invisível, pelo menos hoje, não....





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