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quinta-feira, 26 de junho de 2014

Nesta Vida ou na Próxima





Ele ta longe, longe de tudo, mas ela podia vê-lo a cada dia.
Cada olhar cada batimento cardíaco ela suspirava todos os dias e o sentia.
Fechava os olhos e aperta a foto no peito, chora sentada na cama mais uma vez, todos os dias em sua rotina de olhar perdido longe ao horizonte.
Ela ainda esperava o retorno.
Penteia os cabelos olhando no espelho, na verdade tão mecanicamente, que ao pousar de um inseto no espelho ao parar para limpar ela pode se ver, fazia tempo que isto não acontecia.
Seu rosto mudou, quantos anos se passaram, são tantas marcas de expressão, que ela franze o coração... Ajeita o lenço na cabeça, suspira, abaixa a cabeça, e lembra daquelas risadas que enfeitavam a sua casa, aquela correria desenfreada abrindo a geladeira....
- O que tem de bom hoje....? Já pegando a garrafa de água e virando na boca.... - Isso a deixava muito brava, ela dizia que porqueira é essa, ela tomava a garrafa de sua mão e ele a abraça e dizia.... - Eu te amo mesmo assim e saia saltitante se jogando no sofá com o chinelo, ai virava afronta ela brigava mesmo... e ele dava risada... como quem gostasse de vê-la nervosa...
Será as vezes pensava .... não pode ser de propósito....quer dizer deve ser de propósito.... ah foram tantas as vezes, alguma vez foi de propósito....
Desde que foram morar naquela casa, bem menor que a que tinham antes, muitas coisas tinham mudado.
Mas a vida era assim cheia de mudanças e sem avisos, desde que ela tinha chego na cidade grande, havia tantas mudanças em sua vida que mais uma seria apenas o continuar de seu caminho.
Mas ele não, ele quando chegou, veio sem avisar, deu-lhe um susto, pegou-a de surpresa e todos aos seu redor foram contra, porque com ele viriam uma mudança de vida radical, mas em seu coração ela sabia, eu vou aguentar o que for preciso eu quero ele na minha vida.
Todos os revés eram esquecidos mediante aquele sorriso, as noites mau dormidas, as conversas únicas que tiveram aquele dia em que ela estava tão cansada e ele dizia - Você está linda! - e a abraçava, o mundo mudava de cor.
Mudava de cor também o céu, hoje parecia que ia chover ela olha pega o guarda chuva a bolsa e sai mais uma vez.
Vai de encontro a muitas outras mulheres iguais a ela que um dia haviam perdido os seus filhos, como aquele tenebroso dia que ela não gostava de lembrar, que ao entrar em casa após ter ido ao mercado não o tinha encontrado.
Procurou achou que ele estava brincando, revirou a casa, afinal não tinha demorado tanto, ele devia estar brincando com ela.... e essa brincadeira ja tinha mais de doze anos.
Seu filho fora retirado de seu lar com apenas onze anos de idade e todo rapaz que ela encontrava na rua ela fitava o rosto porque poderia ser seu rebento, as vezes ela sorria de imaginar o quão lindo ele estaria e que talvez tivesse aprendido a não beber mais água na boca da garrafa da geladeira....
A simples ideia desse sorriso era o que a alimentava, era o que lhe dava forças, era o que a mantinha de pé, por doze, vinte ou cem anos, enquanto ela aguentasse de pé, ela esperaria... o encontro desse sorriso nem que fosse nessa vida.... ou então em uma próxima.


Ane Roses

Uma singela homenagem as mulheres e famílias que tiveram seus filhos retirados de seus lares sem saber o paradeiro.
Que o conforto da lembrança do sorriso que um dia foi dividido em um momento de alegria seja a força para a estrada do encontro, nesta vida ou na próxima.



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